15.1.13

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Pietro Ubaldi, o
Pensador do Terceiro
Milênio, o Apóstolo de Cristo.





Terça-feira, 15 de Janeiro de 2013





ENTREVISTA COM PIETRO UBALDI


Valter Rosa Borges

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VRB – O cientista privilegia a razão e se acostumou a olhar o mundo com objetividade. Por isso, alguns cientistas não dão valor à emoção, ao prazer estético e à intuição.

Pietro Ubaldi – O cientista deve fazer-se poeta para saber olhar o mundo com a ingenuidade de uma criança.

VRB – Há cientistas que têm a pretensão de explicar a realidade em todos os seus aspectos. A essa tentativa de unificação deram o nome de teoria do tudo.

Pietro Ubaldi – Uma das maiores aspirações da alma humana é a das grandes unificações.

VRB – Há uma verdade absoluta e imutável?

Pietro Ubaldi – Não só as verdades são relativas à posição particular de cada um, como também são progressivas.
Num mundo em que tudo é relativo, como admitir que a verdade esteja toda de um lado e nada do outro?

VRB – Se todas as formas são transitórias, o que é real?

Pietro Ubaldi – O que é real na vida não é a forma, mas a trajetória do seu tornar-se.

VRB – Somente o nosso mundo é real?

Pietro Ubaldi – Todo mundo é real no seu nível, e ilusão se visto de outros planos. Todo mundo torna-se ilusório, logo que é olhado de um mundo mais alto.

VRB – Qual a sua concepção do universo? Como ele funciona?

Pietro Ubaldi – Há três aspectos no universo: o estático, o dinâmico e o mecânico.
O aspecto estático diz respeito à estrutura e à forma do universo. O aspecto dinâmico, ao seu desenvolvimento e transformação. E o aspecto mecânico, ao seu princípio e à sua lei.
A esses três aspectos correspondem três modalidades do ser: a estrutura ou forma, o movimento ou transformação e o princípio ou lei, os quais podem ser denominados de matéria, energia e espírito e, na direção inversa, em pensamento, vontade e ação.
O primeiro modo do ser é espírito, pensamento e lei. O segundo - energia, vontade e movimento. O terceiro – matéria, ação e estrutura ou forma. Essa é a trindade da Substância alternando-se na passagem de uma fase a outra, não, porém, num circuito fechado, mas num movimento em espiral. Isto quer dizer que, a cada retorno, não se volta exatamente ao ponto de partida, porém um pouco mais acima, nisto consistindo o princípio da evolução universal. Não se trata, portanto, de um movimento retilíneo, nem circular, mas espiralóide, onde cada descida é recapitulação e fixação do aprendizado e cada subida, uma nova conquista.
Cada fase, antes de se estabilizar numa definitiva assimilação ao Sistema, é percorrida três vezes como progresso e duas vezes como regresso, isto é, vivida cinco vezes e em direções opostas.

VRB – Filósofos e cientistas, há séculos, discutem o que é a realidade em sua essência, pois tudo o que se conhece é uma sucessão de fenômenos. Assim, procuram descobrir se a realidade é uma substância e, se ela for, o que essa substância é.

Pietro Ubaldi – O movimento é a essência da Substância. O que chamamos de matéria não passa de movimento e o éter é uma forma de transição entre a energia e a matéria. A radioatividade é uma propriedade universal da matéria, a qual, portanto, não é indestrutível. Somente a Substância é indestrutível.
O fenômeno é uma das infinitas formas individuadas da Substância, a sua transformação e a lei que a rege.
Na substância não existe matéria, no sentido em que a compreendeis; apenas há movimento. A diferença entre matéria e energia consiste apenas na diversidade de direção do movimento: rotatório, fechado em si mesmo, na matéria; ondulatório, de ciclo aberto e lançado no espaço, na  energia.
O movimento, substância do universo, é um ciclo que sempre retorna e é, em si mesmo, fechado e completo.

VRB – Qual a diferença entre matéria e energia?

Pietro Ubaldi – A diferença entre a matéria e energia consiste na diversidade do movimento. Na matéria, ele é notório, fechado em si mesmo. Na energia, ondulatório, em ciclo aberto. Por isso, a criação é uma progressiva curvatura.

VRB – Até hoje, a pesquisa científica não descobriu a indivisibilidade da matéria.

Pietro Ubaldi – Não se pode encontrar o último termo da matéria, porque ele não existe. A substância da matéria é trajetória e relações. A ciência da matéria se reduz a uma ciência de relações, a um puro processo lógico.

VRB – A matéria, tal como a conhecemos, surgiu com a criação do universo?

Pietro Ubaldi – A matéria não é o estado originário da criação, mas seu estado de máxima curvatura do espírito, é o ponto final do processo da involução e o ponto de partida do qual se inicia a evolução.

VRB – O Todo está em perpétua transformação? Heráclito afirmava que tudo é vir-a-ser ou devir, e Lavoisier sustentava que, no universo, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma

Pietro Ubaldi - No absoluto, não pode haver criação; somente no relativo pode haver nascimento e transformação.

VRB – É o espaço finito ou infinito?

Pietro Ubaldi – Há limites espaciais e limites evolutivos no universo. A matéria não tem limites na direção espacial, mas somente na direção evolutiva. Isto é: esse limite não pode ser situado em determinado ponto do espaço, mas pode sê-lo em qualquer lugar onde ocorra a transformação da matéria na sua superior fase de evolução. Por conseguinte, a dimensão que sucede à terceira espacial não se encontra no espaço, porque o universo é individuado em trindades sucessivas ou unidades trinas. O espaço acaba num ponto em que o onde se muda emquando, ou seja, no momento em que a dimensão espaço se transforma em dimensão tempo.

VRB – É possível conciliar as posições filosóficas antagônicas do ser e do vir-a-ser?

Pietro Ubaldi – Ser é eterno vir-a-ser.

VRB – A evolução é apenas orgânica?

Pietro Ubaldi – A evolução orgânica será sempre a forma exterior de uma evolução psíquica mais profunda, que dirige aquela.

VRB – E em que consiste essa evolução psíquica?

Pietro Ubadi – As correntes de pensamento ou noúres são centros psíquicos que existem em formas biologicamente superiores e dificilmente individualizáveis para o homem, em face de suas limitações sensoriais e conceptuais.

VRB – O ser humano continuará, de uma forma ou de outra, sempre evoluindo ou, um dia, parará de evoluir?

Pietro Ubaldi – A “congênita insatisfação humana” é uma evidência de que a evolução é infinita.

VRB – Como explicar a existência do mal no mundo criado por Deus?

Pietro Ubaldi – A primeira criação ou criação originária foi a dos espíritos puros e perfeitos, oriundos da própria substância de Deus. Esses espíritos, que formavam um organismo unitário, possuíam as mesmas qualidades divinas, entre elas a do egocentrismo. Embora perfeitos, eram finitamente perfeitos, cada qual situado em seu próprio nível na hierarquia universal.
Alguns desses espíritos, porém, se deixaram levar por seu egocentrismo e, ultrapassando seus limites, infringiram a ordem do Sistema, colocando-se, em conseqüência, numa posição às avessas – o Anti-Sistema. Este, como produto da queda dos espíritos até então perfeitos, constituiu uma segunda criação - a do universo em que vivemos. Logo, esse universo não foi criação de Deus, mas resultante de uma atitude de rebeldia, o que, por si só, explica a sua imperfeição.
No entanto, o Anti-Sistema contém, em sua essência, as propriedades do Sistema e, por conseguinte, a possibilidade de sua redenção. E esse retorno gradual dos elementos do Anti-Sistema ao Sistema é o que denominamos de evolução.
A queda angélica, no entanto, não foi espacial, mas consistiu numa contração de dimensão e numa mudança de qualidade dos elementos rebeldes, os quais permaneceram, embora em situação de desequilíbrio, no Sistema e sob o controle deste.
Cada ser decaído conserva, em seu inconsciente, o conhecimento que possuía antes da queda. Por isso, todo conhecimento não passa, na verdade, de recordação, de reconquista gradual da sabedoria relativa à nossa antiga posição no Sistema.
Falimos, porque quisemos ir além dos limites da nossa perfeição e, como conseqüência dessa queda, os que se encontravam nas posições mais altas do Sistema foram projetados na posições mais baixas do Anti-Sistema. Por conseguinte, a queda não foi idêntica para todos os rebeldes, mas proporcional à responsabilidade e função que cada um possuía no Sistema. Assim, na longa caminhada de retorno, os espíritos que eram os mais elevados no Sistema serão os últimos a retornar às suas posições anteriores. Em conseqüência, todos os rebeldes, um dia, alcançarão a sua redenção, reassumindo, cada qual, a sua posição anterior no Sistema.
Deus não criou os espíritos simples e ignorantes, nem tampouco absolutamente perfeitos. Eles foram criados livres, relativamente perfeitos e com o conhecimento necessário à posição que ocupavam no Sistema. A liberdade dos espíritos, na criação originária, consistia em cumprir ou não cumprir as suas tarefas no Sistema e não a de poder modificá-lo.
O mal, a imperfeição e a dor não são, portanto, criações de Deus, mas resultados da rebeldia espiritual e qualidades específicas do Anti-Sistema. Enquanto que une os seres no Sistema é o amor e a liberdade, a união no Anti-Sistema é obtida pelo ódio e coação.
Como o Sistema é infinito, o Anti-Sistema é necessariamente finito. Por conseguinte, a existência do Anti-Sistema em nada prejudica o funcionamento do Sistema.
O retorno dos espíritos rebeldes ao Sistema se processa através de inúmeras reencarnações, as quais cessarão quando todos elementos do Anti-Sistema estiverem, de novo, reintegrados em suas antigas posições no Sistema.

VRB – O que fazem os fracos para se protegerem e garantir a sua precária capacidade de sobrevivência?

Pietro Ubaldi – O número é a sua força. Assim a natureza os protege. Por isto eles se reúnem em grupos para se apoiarem um ao outro. Sentem-se seguros somente entre as filas dos iguais; isolados, estão perdidos. Não sabem pensar e agir sozinhos, mas pensam e agem cole­tivamente, como se fossem construídos em série, vibram em paralelo. Desprovidos de qualquer autonomia, eles não sabem funcionar senão por imitação. Para saber pensar e agir por si próprio, é preciso ter uma personalidade. As massas vão assim, como rebanhos, em procura de pastores. E a sociedade já tem os seus homens-guias e normas-guias: instituição e chefes, leis e costumes, civis, religiosos, em todo campo. O forte não vive na grei; ele emerge e se isola. A massa dos fracos é necessária para fornecer ao forte o material com que trabalhar; mas um trabalhar que serve para se cumprirem, para todos, os fins da vida. Tudo se reduz a uma distribuição de funções. Assim o povo tem necessidade de chefes, como os chefes do povo, os inteligentes têm necessidade dos ignorantes a quem ensinar e estes dos de quem possam aprender, os bons dos malvados para os ajudar e estes daqueles, para evoluir.
Estes seres se combatem e entretanto não podem viver sozinhos; lutam para se conhecerem, chocam-se para se combinarem, para encontrar unia fórmula de sua simbiose. E se não é possível encontrá-la, mas a adaptação sabe, em geral, alcançá-la, então o mais forte destrói o mais fraco e o substitui na vida. Se isto parece cruel e desapiedado, é a este sistema que a natureza deve a sua força nos planos inferiores. Assim cada ser tem o seu natural inimigo, segundo sua natureza, e nele o seu contínuo exame de prova. “Diz-me com quem lutas e te direi quem és”. Os grandes são solitários. Eles não aceitam a luta pelas pequenas coisas terrenas e não é com esta que se ligam aos seus semelhantes, mas somente por missão de bem. Eles não agridem os fracos, mas deles sentem piedade. O fraco tem sempre a vantagem de ser menos odiado, pois que não se odeia o inferior, que se pode dominar, que obedece e não oferece obstáculos. Odeia-se, ao contrário, quem, sendo mais forte, representa uma ameaça e por isto é temido. Cada assalto, na natureza, é, no fundo, uma defesa. Todo ser é levado a agredir quem para ele representa um perigo. Quando a simbiose não é possível, então um dos dois deve perecer, isto é, o menos dotado. Dessa maneira a vida alcança os seus fins seletivos no plano animal-humano. Ela elimina os ineptos. Se isto parece ferocidade nos planos mais altos, não o é em relação àquele em quem se verifica e à sensibilidade dos seres que toca. O que justifica a vida é a função. Se cai esta, aquela é inútil. As células imperfeitas dos grandes organismos são sacrificadas para vantagem e perfeição das outras. Esta é a condição do triunfo final.

VRB – A vida é um processo autofágico. Ela devora as suas formas mais frágeis para delas fazer a matéria prima de suas novas criações.

Pietro Ubaldi – Assim é a sabedoria da vida. O que é destrutivo, no fundo é criador, e o que é negativo, assume um valor positivo. É a harmonia do conjunto, no caso particular, o indivíduo inepto não é destruído senão na forma, enquanto o princípio espiritual reencontra a vida em uma forma mais adaptada; ele é eliminado do ambiente que lhe é menos profícuo. A vida segue aqui um seu método geral e lógico para a eliminação dos valores fictícios e das passividades. Permite que na desordem das revoluções, na decomposição dos enquadramentos sociais, aflorem os extratos inferiores. Então a história, momento da biologia social, está em crise. A vida procura pois superá-la para dela sair mais forte e imunizada como acontece nas doenças. São esses os momentos em que os micróbios patogênicos, que em patologia orgânica como na social são os involuídos dos planos inferiores, prosperam, só porque encontram o ambiente adaptado, de demolição. Micróbios sociais que não afloram senão nas horas patológicas das revoluções. Depois eles vêm repelidos para os planos biológicos inferiores, seu ambiente natural, porque é no próprio plano de vida que cada ser acaba sempre recaindo, por peso específico, equilíbrio e sintonia. Assim os filhos da desordem são depois retomados no ciclo de forças do seu mundo, pois que ninguém pode resistir longamente fora do seu elemento. As posições fictícias, não correspondentes aos valores reais, logo caem. Desse modo os vencedores das revoluções raramente são os que as fizeram e depois se restabelece uma ordem diversa da qual eles são expulsos. Só em princípio as revoluções são destrutivas e então a vida mobiliza os da “ralé”, adidos à destruição; exaurida porém esta sua função, a vida se desembaraça desses elementos agora inúteis, para chamar em ação os mais evoluídos. Dá-se, assim, um como processo de decantação ou depósito, pelo qual as unidades mais grosseiras e de maior peso específico, gravitando para baixo, aí voltam para ficarem adidas a funções inferiores.

VRB – Há, realmente, indivíduos ou se trata de uma ilusão? Por mais que não admitamos, quase tudo o que somos é constituído pelo coletivo de cada espécie. Fundamentalmente, pouco diferimos dos outros, embora algumas pessoas consigam perceber além do coletivo.

Pietro Ubaldi - Cada individualidade resulta composta de individualidades menores, que são agregados de individualidades ainda menores, até ao infinito negativo e, por sua vez, é elemento constitutivo de maiores individualidades, que o são de outras ainda maiores, até ao infinito positivo.

VRB – O que chamamos de normalidade é, em muitos casos, um conceito cultural. No entanto, há casos, em que o patológico orgânico ou psíquico é facilmente observável.

Pietro Ubaldi – É inegável que, em muitos casos, o patológico pode, com a adaptação, se tornar um estado habitual do organismo, que acaba vivendo normalmente no patológico. De fato, o estado orgânico perfeito é uma abstração; não existe, na realidade. Não existe, na natureza, um tipo orgânico de perfeição, uma verdade orgânica igual para todos, uma normalidade que seja pedra de toque do valor fisiológico individual; cada um é um tipo próprio, uma verdade orgânica própria e a todos supera, enquanto sabe lutar e vencer. Em a natureza, a perfeição é uma tendência nunca alcançada; a saúde, um estado a ser conquistado a todo momento, um equilíbrio a ser mantido tão somente à custa de um trabalho continuo. Em realidade, todo organismo tem um seu ponto fraco, de maior vulnerabilidade e menor resistência. O patológico acabou, assim, equilibrando-se como um fato mais ou menos constante na normalidade do mundo orgânico, que não se destrói por isso; que traz consigo, qual força, por fim aceita no seu equilíbrio, o seu lado de sombra. A natureza se compensa das diferenças de número e completa as suas imperfeições mesclando sempre os seus tipos que, quanto mais diversos, melhor contrabalançarão, na reprodução, qualidades e defeitos.

VRB – Então, pode-se admitir que o patológico possa ter uma utilidade no contínuo processo de transformação do organismo?

Pietro Ubaldi – Há uma compensação mais elevada do patológico, em outros campos, porque tudo no universo está em conexão. Sempre em conseqüência de reação compensadora, uma imperfeição, ou um sofrimento físico, pode ter uma repercussão criadora no campo moral, determinando um estado de tensão, excitando uma rebelião que se manifesta como uma explosão de força no nível psíquico. Reaparece aqui a função criadora da dor. A sua ação tenaz e penetrante não pode deixar de provocar ressonância na profundeza daquele psiquismo que está sempre em comunicação com as formas orgânicas e nelas grava impressões indeléveis. Assim é que, se a dor muitas vezes não é bastante para construir de súbito a grandeza de uma alma, quase sempre a faz acordar e lhe eleva ao máximo todas as potencialidades e valores. Se a caminhada é sempre longa, é, entretanto, uma escola de ascensão. Se nas almas rudes a dor resulta, por vezes, apenas em passiva adaptação, freqüentemente ela acende novas luminosidades no espírito e, então, se pode verdadeiramente falar de função criadora do patológico. Grande ciência, esta, de saber sofrer, que só possuem os indivíduos e os povos que hão vivido muito, ciência que se revela por uma resistência às adversidades, que os novos não possuem. Observai o fenômeno do patológico até às últimas repercussões, e vereis que, por vezes, ele tem arrancado à alma humana os mais sublimes brados e as mais altas criações. Muitas vezes uma imperfeição física, fechando à alma as portas da vida exterior, abre-lhe as da profunda introspecção íntima, mantendo sempre acordado o espírito e o submetendo a um treino que o torna gigante. Da maceração de um corpo doente, quantas almas têm saído purificadas! Um mal físico pode ser a prova imposta pelo destino na escala das grandes ascensões humanas. Convido a ciência a explicar de que modo uma enfermidade, uma deficiência orgânica, pode dar tanta força ao espírito, tanta fecundidade ao pensamento, tanta saúde e potencialidade à personalidade; de que maneira, em outros termos, pode o patológico muitas vezes conter o supranormal.

VRB – O trabalho já foi considerado como uma punição dos deuses aplicada aos seres humanos. Ou uma atividade exercida por pobres e escravos. Hoje, o trabalho tem uma finalidade exclusivamente econômica e nem sempre gratificante. Assim, o ócio passou a ser uma aspiração dos pobres e um privilégios dos ricos.

Pietro Ubaldi - O trabalho não é uma necessidade econômica, mas uma necessidade moral. O conceito de trabalho econômico deve ser substituído pelo de trabalho função social; direi mais:função biológica construtora, pois ele tem a função de criar novos órgãos exteriores (a máquina), expressão do psiquismo, a de fixar, com a repetição constante, os automatismos (sem­pre escola construtora de aptidões), a de coordenar o indivíduo no funcionamento orgânico da sociedade. Ao conceito limitadíssimo, egoísta e socialmente danoso, de trabalho-ganho, énecessário opor o conceito de trabalho-dever e de trabalho-­missão. É esse o caminho para o altruísmo; não um altruísmo sentimental e desordenado, mas prático e ponderado, cujas vantagens sejam calculadas. O altruísmo, dado o tipo humano dominante, não pode nascer senão como utilidade coletiva, utilidade que o coloca, inexoravelmente, pela lei do mínimo esforço, sobre a linha da evolução. Limitar o trabalho, ainda que material, à exclusiva finalidade egoística do ganho é diminuir-se a si mesmo; é abdicar da consciência do próprio valor individual, do qual esse trabalho é prova e confirmação;  é uma auto-mutilação, uma renúncia à função de célula social, à de construtor que, conquanto pequeno, tem o seu lugar no funcionamento orgânico do universo.

VRB – A distribuição da riqueza é uma utopia. Sempre existirá desigualdade econômica entre as pessoas. Uns são ricos por herança e outros, em razão de sua inteligência, competência, disposição para enfrentar e vencer desafios e superar dificuldades. Já os pobres o são, porque nasceram na pobreza, não tiveram oportunidades apesar de inteligente e competentes, ou, porque possuem um baixo nível intelectual. Os que se tornaram ricos assim o conseguiram pelo seu valor pessoal, pelas oportunidades que souberam aproveitar ou por mera sorte.

Pietro Ubaldi – Falo-vos do problema da repartição da riqueza como de um problema de destinos; reduzo as tentativas violentas de nivelamento econômico a uma mentira do pobre, que desejaria usurpar a posição do rico, e digo àquele: se a riqueza pode ter sido um furto, não é isso razão para ser roubada de novo. Resolvo o problema, não com o dar razão ao pobre que agride, mas dizendo ao rico: ai de ti se não cumprires o teu primordial dever, de ter presente o interesse de todos no uso dos bens que te foram concedidos: ai de ti se não souberes descer até ao pobre. Dá-lhe o supérfluo. Ai de quem goza hoje pois que, por certo, não ganha para a eternidade. É mais fácil que um camelo passe por um fundo de agulha do que um rico salvar-se, pois o equilíbrio não se consegue por usurpações recíprocas mas pela compreensão das recíprocas neces­sidades. O progresso reside na concórdia e na cooperacão, e ai de quem se torna instrumento de involução. A riqueza é uma corrente que deve circular passando por mãos de todos, para o bem de todos, e a beneficência deve, também, ser uma dádiva que eleve partida da alma, um ato de bondade que irmane os espíritos e não uma exibição que cave abismos de ódio: deve, enfim, ser um dar moral, que enriqueça de bens eternos.

VRB – A solidariedade entre os membros de uma sociedade é de fundamental importância para a sua sobrevivência. Essa solidariedade, no entanto, até o momento é compulsória. Só a conscientização dessa necessidade tornará a solidariedade um ato sempre espontâneo, uma espécie de  instinto coletivo.

Pietro Ubaldi – No homem, o instinto coletivo está em formação.

VRB – A agressividade faz parte da natureza humana. Sempre haverá competição, conflito, guerra, matança. A paz é a trégua da guerra. Com esperarmos que, um dia, os seres humanos vivam em paz e abominem a guerra?

Pietro Ubaldi – Hoje, a humanidade vive uma fase de transição em que se compreende a utilidade da paz mas não se sabe vencer a necessidade da guerra.
O crescente poderio destrutivo destruirá a guerra, porque a progressiva sensibilidade humana e a sua mais profunda consciência a encararão cada vez mais com medo e horror.

VRB – Por sermos livres, fazemos escolhas, embora não saibamos, com certeza, que elas são as melhores para nós. Essa incerteza nos leva sempre a fazer escolhas.

Pietro Ubaldi - A escolha só é possível onde ainda não se conhece o caminho melhor.

VRB – As pessoas que não se sentem livres querem liberdade e as que a têm desejam aumentá-lo. A liberdade parece algo sem limite.

Pietro Ubaldi - Não se pode realmente chegar à liberdade senão quando o indivíduo consegue substituir a disciplina que lhe é imposta por um amo, por aquela que lhe é imposta por si mesmo.

VRB – Há os que pensam que a desobediência é sempre uma manifestação de liberdade. Assim, entendem que obedecer é servidão.

Pietro Ubaldi – Quanto mais se evolui, tanto mais a liberdade se torna liberdade de obedecer à Lei e sempre menos vontade de a ela desobedecer.
A verdadeira obediência é fruto do amor, pois só obedecemos com espontaneidade àqueles a quem amamos.

VRB – Se tudo estiver predestinado, a nossa liberdade é um jogo de erro e acerto, culminando, afinal, na nossa submissão ao determinismo.

Pietro Ubaldi – A perfeição de Deus exige que tudo seja determinístico.

VRB – O sofrimento é a experiência mais perturbadora do ser humano. E quanto mais intenso, mais revela a natureza de cada pessoa.

Pietro Ubaldi – Dize-me como sabes sofrer, e eu te direi quem és. Cada um sofre conforme o nível em que se acha: um maldizendo, outro expiando, e outro bendizendo e criando!

VRB – A dor pode melhorar as pessoas ou, ao contrário, torná-las pior?

Pietro Ubaldi – A dor pode piorar os maus, mas sem dúvida melhora os bons.

VRB – Não está claro, segundo o Catolicismo, se os maus irão sofrer por toda eternidade ou se serão extintos após o Juízo Final. Ora, se os maus forem destruídos, não sofrerão eternamente no Inferno.

Pietro Ubaldi – Não existe sofrimento eterno para o mau, mas a sua destruição. A perdição eterna, no entanto, é um dado meramente teórico porque, na prática, haverá corretivos que tornarão apenas teórica esta possibilidade de autodestruição por involução, visto que quanto mais se insistir na vontade do mal, tanto mais se evolui e se perde a liberdade e, com isso, a capacidade de efetivar o mal.

VRB – Embora pareça paradoxal, pode, de um modo ou de outro, o mal redundar em um bem?

Pietro Ubaldi – Na sabedoria divina o mal está a serviço do bem.

VRB – Se alguém faz o mal por prazer, o mal praticado lhe faz bem.

Pietro Ubaldi – Ninguém também hoje faz o mal pelo mal; se o faz, é por que o reputa, na sua ignorância, uma vantagem, uma utilidade, um bem.

VRB – Se as pessoas sobrevivem à morte, parece-me evidente que o ser sobrevivente não é a continuação daquele que morreu. É um novo ser, porque modificado pelo ambiente diferente do mundo material onde viveu.

Pietro Ubaldi – É intuitivo que embora sobrevivendo, a personalidade humana deva experimentar mutações que lhe fazem perder seus atributos humanosseus sinais de identificação psíquica e as características que lhe eram próprias no ambiente terrestre.